O Índice de Qualidade de Vida da Economist Intelligence Unit é baseado em uma metodologia única que liga os resultados subjetivos de pesquisas de satisfação de vida com os determinantes objetivos de qualidade de vida entre os países. O índice inclui dados de 111 países e territórios. Entre eles o Brasil.
CONTEXTO EXPECIFICO
O que é exatamente qualidade de vida e qual seria o grau de prioridade desta discussão em um país onde milhões de pessoas não têm suas necessidades básicas atendidas? À primeira vista, parece uma discussão secundária, a ser feita apenas depois de cumpridas certas etapas. Mais ou menos como, por exemplo, discutir a qualidade do feijão apenas depois de garantir que haja feijão, inda que duro ou queimado. Uma outra possível reticência com o tema estaria vinculada aos seus aspectos subjetivos e suas variações culturais. Mas seria a qualidade de vida algo mesmo por demais subjetivo para que pudesse se constituir em objeto de estudo? Seria uma questão puramente adjetiva, de grau, um valor meramente subjetivo, fora, portanto, do campo científico? Seria um luxo (como o faz supor a publicidade em geral, sempre a vincular qualidade de vida a requinte e sofisticação, ao "detalhe que faz a diferença"), e, portanto, algo supérfluo diante de questões mais substantivas, como garantir um "patamar mínimo de dignidade e de condição humana"? Mas, qual é este patamar e como definí-lo? Como determinar as "necessidades básicas"? E quem as determina? Pressupor que o debate sobre qualidade de vida excede ao debate prioritário sobre o fim da miséria não seria mais uma discriminação que perpetuaria a desigualdade e injustiça sociais?
As carências habitacionais e alimentares da população desvalida tendem a ser pontual e parcialmente assistidas através de programas mais ou menos modestos e paliativos, a beneficiar apenas pequena parcela de amplíssimo contingente populacional que permanece desatendido. São intervenções tidas como realistas e viáveis, que projetam casas populares de 16 m2 para grupos familiares de cerca de 10 pessoas; que visam a produção e distribuição de leite de soja de "vacas mecânicas" que um presidente brasileiro considerou "intragável"; que produzem sopas industriais para crianças pobres subnutridas, feitas com as "xepas" (sobras) do mercado hortigranjeiro. São ainda decisões governamentais que autorizam a instalação de complexos industriais altamente poluentes em nome da abertura de um mercado de trabalho que transforma pescadores em desempregados. A crítica a estas iniciativas pode ser vista como preciosismo romântico: como questionar a construção dessas "casas", quando a alternativa é o barraco de papelão sob os viadutos, ou simplesmente as ruas? Não será superficialismo discutir o leite da vaca mecânica e a xepa para as crianças pobres, quando a alternativa parece ser a de deixá-las à míngua? Não será romantismo defender florestas e águas puras, quando a alternativa é a de ter uma população desempregada e miserável? Críticas assim são, todavia, importantes, pois abrem espaço para perguntas cabais: por que, exatamente, os governos não podem trabalhar com a real possibilidade de prover todas as crianças de leite natural, carnes e frutas frescas, prover os sem-teto de habitações onde realmente todos caibam e a população, a um só tempo, possa ter emprego racional e ambiente ameno e equilibrado?
Mencionamos até aqui a primeira relutância em discutir e examinar o que é qualidade de vida, e que se baseia em entender que qualidade de vida é algo adjetivo e relativo. Há outras críticas ao tema: a questão do entendimento sobre o que é qualidade de vida também pode ser vista como desnecessária, não por ser desimportante ou pouco palpável, mas pela sua obviedade. Algo que ninguém saberia definir, mas que, parodiando a referência da poeta Cecília Meirelles à liberdade, todos entendem o que é. Talvez por isto a ênfase dos estudos sobre qualidade de vida enfoque predominantemente a sua mensuração, ficando embutido na escolha sobre o que mensurar os pressupostos do que se entende venha a compor a qualidade de vida.
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